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Papéis em branco

DES-APRENDER

Aprender é essencial.

Desaprender é fundamental.

Papel reciclado
Papel branco




Eu nunca lembro como se calcula a altura de um triângulo. Eu também sei que isso não parece ser um problema tão grande, mas eu calculo diversas medidas de diversos triângulos com frequência. Às vezes é para crochet, outras vezes para costura. Uma vez foi para pendurar uma prateleira. A maioria das vezes é para meu puro divertimento.

Curiosamente, é justamente porque me divirto que não sei como se calcula a altura de um triângulo.


Imagem de um triângulo com a linha da altura destacada.


É que a altura de um triângulo é uma linha que divide ele de um ponto a uma reta,

do topo até a base.










E a altura forma um ângulo reto com a base.











E de repente, é Pitágoras de novo.

E eu sei como calcular a altura do triângulo.








Eu não preciso lembrar como se calcula a altura de um triângulo, mas o mais importante é que eu não quero. Eu gosto de brincar com as medidas, ângulos, relações geométricas e leis da matemática.

Tem quem ache mais fácil memorizar h=√3a/2.


Pelo que lembro, isso só vale para triângulos equiláteros, porém eu não me prôpus a dar uma aula de matemática aqui - sou altamente desqualificada para isso.

Meu ponto, simplesmente, é que o mais fácil nem sempre é realmente mais fácil, e que tudo bem escolher o caminho mais trabalhoso só porque ele é mais divertido.


Vou continuar não aprendendo como se calcula a altura de um triângulo. E vou continuar tendo a alegria de reaprender toda vez, me recordando a cada linha algorítmica dos princípios por trás das minhas contas.


Poucas coisas são tão satisfatórias quanto uma equação caoticamente bem resolvida.







Eu sempre fui estranha. Bem estranha.

Pelo menos, foi o que me disseram.


Minhas perguntas são estranhas: afinal, ainda não sei por que raios a Terra não é meio grau mais inclinada para a esquerda.

Meus elogios são estranhos: mas realmente adoro como minha amiga arruma o cabelo parecendo uma sereia em arte nouveau.

Minhas palavras são estranhas: porém, 'aprecio' não é o mesmo que 'obrigada', que definitivamente não é o mesmo que 'mucho thanks'.

Meus interesses são estranhos, minhas reações, meus medos, minhas preferências.


Me acostumei a ser estranha, comecei a comemorar minha estranheza. A me deixar quebrar as regras que não faziam sentido para mim (principalmente gramaticais), usar meias na grama e na praia (sem sapatos ou chinelos), fazer crochet revendo Peter Pan pela milésima vez (a peça de teatro gravada), comer pão com pão (o melhor recheio).

Aprendi a ser estranha, diferente, especial, excepcional - a palavra que você quiser para 'não normal'. E aprendi que isso era bom!

É minha estranheza que me faz única, é como vou sair do meio da multidão.


Mas aí veio a internet.

Ah! Não passa um dia sem que eu veja um vídeo, um texto, uma foto, um áudio, que me mostre alguém sendo exatamente como eu sou.

Que raiva que me deu.


Todo o trabalho e terapia em aprender a ser estranha e, de repente, eu sou só um clichê.

Vários rostos me olhando pela tela do celular com o mesmo corte de cabelo, mesmo gosto por colheres pequenas, mesmo ódio de sertanejo universitário, mesma existência - só em fontes diferentes.

Não sabia mais o que fazer de mim.


Para me destacar, preciso ser ainda mais estranha? Ir ainda mais além do limite do meio da curva da média? Não quero ser medíocre, mas como não ser, se eu sou absolutamente comum na minha estranheza?

Maldita internet, trazendo um mundo de gente igual a mim, para mim.


Maravilhosa internet, trazendo um mundo de gente igual a mim... para mim.


Ser medíocre me permite ter conexão. Não estou sozinha mais.

Alguém, nesse mundo tão enormemente pequeno, me entende. Alguém compreende, acolhe, aprecia e celebra a mesma estranheza que sempre tive, fui, senti e sou. Alguém fala a mesma língua, enxerga as mesmas cores, dança os mesmos passos, chora as mesmas lágrimas. E esse alguém são vários alguéns.


Foi só me deixar ser estranha para descobrir que eu não sou.

Ainda bem.











Já sabia que queria ser escritora duas décadas atrás. Quando vi dois amigos escrevendo contos e permitiram que eu me juntasse à história, não houve mais opção.

Sim, eu já sabia escrever, e mantinha diários atrás de diários, mas isso... Isso era diferente.

Escrever contos, poemas, crônicas, fragmentos literários, sem nenhum objetivo além da alegria de escrever. E ler e reler o que havia sido escrito. Eu não queria nada além de poder continuar escrevendo.


O tempo, como sempre faz, passou. E a vontade de escrever nunca me largou, sempre abraçada comigo, aninhada nos cadernos e canetas que levo na bolsa para todo lugar. Mesmo parada e em silêncio, as aliterações e rimas continuam se encontrando nos meus pensamentos. Não há opção: é preciso escrever.


Nessas duas décadas, tentei várias estratégias para conter esse desejo profundo. Tive blogs, participei de revistas, escrevi em segredo, publiquei livros. Escrever era um fato curioso da minha pessoa, que lia, estudava e escrevia numa vida em paralelo. Mas o chamado da escrita só aumentava, gritando de dentro do meu peito: não há mais opção!

Preciso ser escritora.


Não durmo, não descanso, não respiro, não existo sem ser escritora. Não posso e não devo controlar, me resta entregar e aceitar.

Estou aprendendo, desaprendendo e reaprendendo, com uma única certeza:


Não há opção, sou escritora.

E estou descobrindo o que isso significa.

em breve, muito mais.

Limonada de Tinta

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